domingo, 25 de dezembro de 2016

Vida Marinha


340. É solene para o Espírito o momento de sua encarnação?
Pratica ele esse ato considerando-o grande e importante?
“Procede como o viajante que embarca para uma travessia perigosa
 e que não sabe se encontrará ou não a morte
 nas ondas que se decide a afrontar.”
(O Livro dos Espíritos)

1. EPOPEIA DOS DIAS
A Vida é um mar revolto,
Oceano de águas bravias,
Em que se navega livre, solto,
Na grande epopeia dos dias.

Ondas lançam barcos a rochedos.
Os marinheiros corrigem as rotas.
No caudaloso gigante dos medos,
Arriscam-se, audaciosas frotas.

Os ventos de mil surpresas
Sopram emoções a vários nós.
O amor emerge entre as belezas
De tão belo e tão salgado algoz.

A vida é uma grande viagem,
Uma jornada, uma travessia,
Em que se perde a bagagem
Da arrogante e tola teimosia.

Haja estômago, sacrifício,
Nessa nauseante passagem,
Do berço ao porto final da biografia.

Entre o cais natalício
E a derradeira ancoragem,
Anjos são o farol que Deus nos confia.


(...) E eis que a estrela que tinham visto no céu surgir ia à frente deles até que parou sob o lugar onde se encontrava o menino.
(Mateus 2, 9)

O anjo, porém, lhes disse: “Não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas deitado numa manjedoura”.
(Lucas 2, 10-11)

2. CALMARIA
Farol de fé, amor e caridade,
Facho ardente, luz peregrina,
Desfaz o egoísmo, a vaidade
E o medo, a invernal neblina.

Vencido o tenebroso nevoeiro
Do pavor, dessa sombra irrefletida,
Contempla, o feliz marinheiro,
A grandiosa corrente da Vida.

Mas vê novamente a desdita:
Há névoa no peito dos marujos,
Que lhes aflige a fé, e a fé aflita
Enseja os extremismos sujos.

Não! Não ceder ao terrorismo!
Amor é bússola. Buscai Deus!
Avançar em amor e pacifismo,
Sem a histeria turva dos fariseus!

Anjo Guardião que, à noite fria,
É farol do amoroso Continente,
Dos navegantes, o celeste guia
(Estrela dos magos do Oriente),

Encoraja com sua bondosa luz
Os marinheiros, e lhes ilumina
A senda (desatando a neblina)

E mostra aos nautas onde há Jesus
Como mostrou, na noite natalina,
Aos homens, o Alvor da Luz Divina.


3. REINO CONTINENTAL
Jesus é Sol a brilhar no Esplendor
Da Infinita Terra da Verdade.
No continental Reino do Amor,
Reina a Manhã da justa Igualdade.

Desatada a neblina, os nautas
Já avistam a Praia da Bonança,
Onde moram as virtudes altas,
Onde a hipocrisia não alcança.

Brilhando acima do Continente,
Ensina Jesus (Mestre do Amor):
“Sê pacato, modesto, indulgente,”
“Ama teu próximo, ama teu Senhor”.

“Não faças como o fariseu ufano,”
“Quem se exalta será rebaixado!”
“Sejas humilde como o publicano,”
“Quem se rebaixa será exaltado!”

“O fariseu canta, ora, jejua, oferta,”
“Guarda o sábado sacralizado,”
“Mas não ama. Sem ter alma aberta”
“A todos, como ser justificado?”

“Antes das ofertas ritualísticas,”
“Vá, reconcilia-te com teu irmão!”
“E cuide dos náufragos desse mundo.”

“Marujos, as terras serão pacíficas”
“Quando brilhardes amor e perdão.”
“‘Vós sois Deuses’, sede solo fecundo!”

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Madrugada


O silêncio da madrugada
Sussurra ao vent'um feitiço,
Sob a Lua, bruxa dourada,
Berra um felino enfermiço.

O mercúrio caiu!
É o frio, é o frio!
O sino não gemeu!
É o breu, é o breu!

A capela dorme. Quietude.
A rua, domada, também dorme.
Só haverá feroz inquietude
Para quem, envolto em madrugada,
Acorde.

Sozinho na noite,
Solto no tardio vácuo do espaço,
Não se vê nenhuma face amada,
Em quem se ancore um abraço.

Sibila o ledo açoite
Da ventania gelada.
No mistério da noite,
A companheira é dourada.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A Montanha do Bem


  

  Ao contrário do que ocorre nas escaladas materiais, a ascensão na Montanha do Bem nos traz ares menos rarefeitos.

  Quanto mais subimos o monte das bem-aventuranças, mais nos afastamos das feras carnívoras da planície, símbolo da animalidade que subsiste na alma, e mais perto ficamos das coloridas aves do paraíso, emblema da liberdade fruída pelos espíritos puros.

  Ah! As atmosferas superiores são mais puras e livres! A alma viaja pelo infinito como o pássaro risca o céu.

  A planície, com sua floresta densa, fechada e sombria, representa a pouca clareza de ideias dos espíritos ainda pouco experientes. Mas os níveis superiores do morro recompensam o viajante com iluminado jardim de árvores frutíferas.

  Quanto mais subimos, mais bela é a vista e melhor ideia fazemos do conjunto. Percebemos, então, que deixamos o obscuro arvoredo da planície, rumo ao pomar de delícias, localizado no topo da montanha.

  Escalar essa formação rochosa não é tarefa das mais simples. São muitos os calos a nos dar prova da aspereza do trajeto. Mas contamos com a colaboração de guias, que trilharam o mesmo caminho que agora trilhamos, e que descem das altitudes felizes para nos infundir ânimo e nos aconselhar.

  Que nós possamos subir cada vez mais! E cada vez mais rápidos! E cada vez mais confiantes!

  Não nos apavoremos com a vertigem. Uma vez que subimos um nível, não cairemos novamente no declive tenebroso dos antigos erros ou nas garras das violentas feras.

  O espírito não retrocede. No máximo, permanece imóvel por vontade própria, até que, no futuro, também pela própria vontade, volte a progredir, continue a percorrer a senda da benevolência e do conhecimento intelectual.

  Sigamos as asas dos pássaros celestiais! Ouçamos seu pacífico, igualitário e humilde canto!

  O Sol do Amor Divino, cuja luz atravessa até a vegetação fechada da planície, nos induz a subir e nos orienta a trajetória. Seu fulgor, que jamais nos abandona, mostra-se ainda mais sublime e amoroso no ápice da Montanha do Bem.

domingo, 19 de outubro de 2014

Poética



Contar séculos, contar segundos...
Cantar a diversidade de mundos
Dum só mundo, numa só antologia.
Eis o desafio (a poesia me desafia!):
Versar a multiplicidade numa só estética.

Sejam, neurônios, orbes fecundos,
Donde brotem mil astros rotundos,
A gravitar o lume estelar da Poesia.
Construirei minha própria Mitologia
Das Mitologias, em verve cosmogenética!

Eis minha aspiração,
Eis minha inspiração,
Minha constelação poética!

terça-feira, 11 de março de 2014

Aéreo


Em minha mente dormente
Vultos nevoentos me sorriem
Vaga a mente... Vagarosamente...

Vaga pelas vagas do oceano,
Alto-mar todo feito de nuvens

Nuvens de lembranças, de reflexões,
Nuvens novas, adultas, anciãs
Nuvens pueris sopram velhas ilusões...

Cúmulo de pensamentos, divagações...
Acúmulo de memórias e desejos...

Cúmulo-nimbo: hórridas previsões
De dores, de tempestuosos prantos

Cúmulo-cirro: tórridas pretensões
De livre voo, de celestes regozijos

Nefelibata, andarilho das nuvens,
Transeunte do céu, nativo do firmamento,
Vou e volto de minha imagética morada
Com o fulgor caudal do pensamento